CHEFE DO CADE OMITE
LIGAÇÃO COM DEPUTADO PETISTA
Vinícius de Carvalho
trabalhou para o deputado estadual Simão Pedro (PT) na Assembleia Legislativa
de SP, mas informação não aparece em currículo.
Vinicius Marques de
Carvalho, presidente do Cade e ex-chefe de gabinete do deputado petista Simão
Pedro em SP
O presidente do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Marques de Carvalho, omitiu
em ao menos quatro currículos oficiais ter trabalhado para o deputado estadual
Simão Pedro (PT), responsável por representações que apontaram suspeitas de
formação de cartel, superfaturamento e pagamento de propina envolvendo
contratos da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Documento da Assembleia
Legislativa paulista (Alesp) registra a passagem de Carvalho pela chefia de
gabinete de Simão Pedro entre 19 de março de 2003 e 29 de janeiro de 2004.
O vínculo não consta de
nenhum currículo oficial apresentado por ele desde 2008, quando passou a ocupar
cargos no Cade. A omissão ocorreu, inclusive, quando ele viabilizou sua
indicação à presidência do Cade pelo Senado em 2012.
"Foi provavelmente um
lapso", disse Carvalho.
O Cade, órgão que regula a
concorrência empresarial no Brasil, fechou em maio deste ano um acordo de
leniência com a Siemens, empresa alemã detentora de uma série de contratos com
o governo paulista nas últimas décadas.
Nesse acordo, em que a
empresa assume irregularidades para amenizar sanções futuras, a Siemens confessou
a existência do cartel e disse que ele atuou nas gestões do PSDB em São Paulo
entre os anos de 1998 e 2008.
Assim que o conteúdo do
acordo veio à tona, em julho deste ano, integrantes do governo Geraldo Alckmin
(PSDB) acusaram o órgão federal de vazar informações de forma seletiva motivado
por questões políticas.
Simão Pedro, que hoje
ocupa o cargo de secretário municipal de Serviços da gestão Fernando Haddad
(PT) na capital paulista, afirmou que se trata de uma coincidência o fato de o
caso Siemens, denunciado inicialmente por seu gabinete, emergir no Cade após
seu antigo assessor ter assumido a presidência do órgão.
Em um documento enviado ao
Senado pela então ministra da Casa Civil Erenice Guerra, em 2010, por exemplo,
Carvalho lista suas "atividades profissionais" de fevereiro de 2002 a
janeiro de 2003 e, na sequência, as de fevereiro de 2005 a fevereiro de 2006.
Há um hiato justamente no
período em que atuou para o deputado petista.
Na ocasião, Carvalho era
conselheiro do Cade e estava sendo reconduzido ao cargo.
O currículo é detalhado,
com nove páginas, elenca oito "atividades profissionais", mas
silencia sobre a passagem pelo gabinete do deputado petista.
Em 2012, a ministra Gleisi
Hoffmann, da Casa Civil, também encaminhou o currículo de Carvalho ao Senado.
Ela apresentava seu nome
para a presidência do Cade por quatro anos.
A relação de
"atividades profissionais" não mencionou, igualmente, o trabalho para
Simão Pedro.
Os senadores aprovam as
indicações para cargos públicos com base em sabatina e no currículo que recebem
da Casa Civil.
A única menção ao trabalho
na Alesp consta de documento enviado ao Senado em 2008, na primeira indicação
de Carvalho para o conselho.
Na ocasião, ele informou
que foi chefe de gabinete na Assembleia de SP, mas sem citar o deputado
estadual petista.
Os dois históricos
profissionais do site do Cade também omitem que Carvalho trabalhou para Simão
Pedro.
DENÚNCIA - O
deputado apresentou verbalmente suspeitas de irregularidades nos contratos
metroferroviários ao Ministério Público paulista em 2010.
A representação pedindo
investigação foi protocolada meses depois, em fevereiro de 2011.
Nela, o deputado
mencionava carta de um ex-executivo da multinacional enviada ao ombudsman da
companhia, detalhando as irregularidades.
Em junho e dezembro de
2012, Simão Pedro fez mais denúncias ao Ministério Público apontando suspeitas
na reforma de 96 trens das linhas 1 e 3 do Metrô, nas quais a Siemens atuou.
Naquele mesmo ano,
Carvalho assumia a presidência do Cade.
"Esse negócio da Siemens
entrou no radar do Cade em 2012. Até chegar ao acordo de leniência, levou um
tempo", disse Carvalho.
A autodelação foi
oficializada, enfim, em maio deste ano, o que detonou o escândalo.
Nas palavras de Simão
Pedro, foi "alento", já que as investigações não andavam no
Ministério Público paulista.
"Para minha sorte, o
caso, foi ao Cade. O Ministério Público sempre me disse que as provas que eu
apresentei não eram suficientes para apresentar uma denúncia", disse o
deputado.
Após o acordo de leniência
vir à tona, o Ministério Público reativou 45 inquéritos civis e abriu um
criminal para apurar as licitações dos governos tucanos e as suspeitas de
pagamento de propina a agentes públicos.
O deputado estadual nega
ter mantido contato com Carvalho durante seu período no Cade.
Já Carvalho diz não
aceitar "acusação de politização da investigação do cartel".
"Se a empresa vem ao
Cade, como o órgão pode ser acusado de estar politizando?", disse em 17 de
agosto, numa reação às acusações dos integrantes do governo tucano segundo as
quais o órgão estaria vazando informações de forma seletiva para atingir o
PSDB.
LAPSO - O
presidente do Cade afirma que não teve "a intenção de omitir" do
currículo o trabalho como chefe de gabinete de Simão Pedro. Segundo ele, a
ausência "provavelmente foi um lapso".
"Podia ter colocado o
negócio do Simão, não ia mudar nada e eu não iria ter o problema que eu estou
tendo de ter que ficar me explicando."
Carvalho negou que a
omissão tenha servido para evitar questionamentos.
"O Simão Pedro não
tem nada a ver com o acordo da leniência. Quem foi procurar o
Superintendência-Geral do Cade foi a Siemens."
Ele afirmou que não
incluiu o trabalho para o deputado no seu currículo do Cade porque a
assessoria, "provavelmente, colocou as informações que têm mais a ver com
as questões relacionadas ao Cade."
Simão Pedro atribuiu ao
destino o caso Siemens, denunciado por seu gabinete, emergir no Cade, sob o
comando de um ex-assessor.
Segundo ele, a relação com
Carvalho é de "amizade" e não interferiu nas apurações sobre o cartel
do metrô, em curso no conselho.
"É uma coincidência
danada do destino", afirmou o deputado petista.
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