O EROTISMO DA ALMA
O amor que cura ensina os
parceiros a circular energia de um para o outro, indo além do simples toque
físico, sentindo uma conexão elétrica, mesmo que não estejam juntos.
Margareth Gonçalves
O universo está formado
por diversas categorias de átomos. Existem os átomos físicos, astrais, mentais,
búdicos, etc. São as 24 classes atômicas distintas que formam o universo. Entre
essas classes, existem os átomos chamados de Devi-Prakritti, isto é, aqueles
que formam o “corpo de glória”. Outros, dão poder ou força, e são conhecidos na
linguagem yogui como Brahma-shakti (energia divina).
Junto com Brahma-shakti
estão os corpúsculos de alegria, de felicidade ou de glória. Esses elementos se
encontram em toda parte. Nosso corpo físico e sutil os absorve e os acumula nos
chacras (centros de forças sutis do nosso corpo). O chacra sexual está
constantemente atraindo e assimilando o Brahma-shakti, que é a força da vida e
as moléculas da felicidade.
O poder da vida forma o
sêmen e organiza os espermatozóides. Quando efetuamos o ato sexual e expulsamos
o sêmen, perdemos grande quantidade da força da vida. Uma ínfima parte
repercute nos chacras e no sistema nervoso dos citados “corpúsculos de glória”.
Alcançar esse estado de felicidade sexual (orgasmo) é fácil para todos os seres
e, por isso, eles estão constantemente se debilitando e perdendo o
armazenamento dos corpúsculos de glória conservados nos órgãos sexuais.
O trabalho do buscador é
sublimar ou elevar a força da vida e de felicidade para os chacras ou centros
superiores – a partir dos órgãos procriativos. Para obter esse propósito, o
buscador tem de retirar seu pensamento do “centro inferior”, conduzindo-o ao
centro do coração, concentrando sua força no sol ou chama de nossa alma.
Mediante essa prática extensa e decidida, por algum tempo, quando somatizar
grande quantidade de força de vida é átomos de matéria divina, carregada de
felicidade, se abrirão as comportas que os mantinham presos na energia
inferior, e essas energias subirão pelo sistema nervoso até alcançar o plexo
solar, e daí irão irromper no coração, inundando-o de imensa glória.
ESSA GLÓRIA DIVINA É TÃO
IMENSAMENTE PODEROSA e composta de vibrações de bem-aventurança, que quase
sempre o corpo físico não resiste de tanta felicidade transcendental. Por um
momento, o buscador acredita que irá morrer em gozo divino. Em algumas
ocasiões, o grau de felicidade chega a ser tão elevado que a força divina sai
pelo centro luminoso da cabeça e irrompe na aura, a qual, por ser de qualidade
de matéria mais sutil, pode resistir a uma pressão de maior felicidade que o
corpo físico; então, o buscador tem a sensação de que irá se desintegrar e
morrer em um imenso mar de glória infinita.
Esse estado é conhecido
como êxtase divino. Não existe coisa alguma no mundo material que possa se
assemelhar a essa experimentação. Nesses êxtases, ao passar para outros planos
– seja astral, mental, etc., segundo a capacidade do buscador -, ele se depara
com a sabedoria e a ordem desses mencionados planos, com seus habitantes, anjos
ou deuses. Todo esforço e luta que se faça para abrir as portas do céu e pouco
para o imenso tesouro que se obtém.
Em outras ocasiões, por
misericórdia e graça, os mestres irradiam partículas de matéria divina e as
fazem correr cheias de glória, desde a cabeça até o coração do discípulo.
Então, a “chama” do coração arde em glória intensa em todo o corpo físico,
lançando sua voltagem de harmonia e beleza para os éteres do mundo inteiro. E
os mestres assim o fazem para despertar a fé maior e científica dos discípulos
sinceros, e os ajudam na purificação de si próprios ou das tentações devidas
aos nossos estúpidos desejos.
Os gurus dispõem de meios
para nos comunicar sensações de felicidade infinitamente superiores às que
podem ser experimentadas no plano material, fazendo-nos compreender, assim, a
diferença entre os efêmeros entretenimentos mundanos e as experimentações
divinas.
A QUESTÃO DO SEXO E SUAS
RELAÇÓES estão, aparentemente em todas as discussões, em toda parte. De
segredo, o sexo passou a ser de conhecimento público. No que não podemos nos
deixar cair, em hipótese alguma, é no excesso.
As vezes, o impulso sexual
é comparado ao instinto animal. Nunca houve uma noção tão incorreta e
deturpada. Sua peculiaridade de essência universal não pode ser de natureza
instintiva. O prazer, em si, não traz felicidade. O estado de prazer é oposto
ao da dor; porém, ambos caminham juntos. Portanto, a procura unicamente do
prazer físico reage em forma de dor. Se a dor, contudo, puder ser transmutada
em prazer, a fim de transcender a ambos, nos traria ao caminho certeiro para a
felicidade.
Este é o propósito das
disciplinas espirituais. Assim, o impulso sexual é a motivação da vida para dar
continuidade ao processo evolutivo do mundo. Se esse ato se degenerar e se
tornar mera atração pelo prazer, a reação será a de dor em todos os aspectos.
Há uma tendência indiscriminada em satisfazer o ímpeto sexual. O resultado é a
promiscuidade. E quando todos são impelidos a procurar prazer, o resultado é
sempre o conflito e as misérias que este traz.
A instituição do casamento
tem o objetivo de controlar essa tendência, mas enquanto no casamento existir a
obrigatoriedade do ato sexual e de sua constância, será um forte argumento para
perpetuar tal tendência.
O desejo somente pelo
prazer não é certo, pois tende a se deteriorar. Temos de aprender a sublimar e
a transcender o ímpeto sexual. Tanto no casamento quanto em outros
relacionamentos, o prazer pelo prazer não só impede a evolução espiritual como
também leva à deterioração de fatores materiais. De todas as energias que
motivam as atividades da vida, a do sexo é suprema, por ser sua fonte. Mas essa
energia é sempre desperdiçada, e o que mais a consome é principalmente a
atividade sexual. Temos de voltar essa energia sexual para o nosso interior.
Isso pode ser alcançado de um modo gradual.
A GRANDE ALEGRIA QUE SE
SENTE QUANDO EXPERIÊNCIAS subjetivas acontecem se deve ao retorno desse fluxo
ao interior. Quanto maior o fluxo, maior a alegria que resulta no despertar
dessa energia. É sabido que um nervo é criado em nosso corpo como um canal,
através do qual a energia passa até alcançar o ponto culminante. A elevação da
consciência interna aos altos planos da existência é possível somente com a
ajuda dessa energia, quando conservada e levada a fluir ascendentemente.
Quando essa shakti, ou
energia, é assim controlada, o poder de atuar sobre os diferentes níveis de
veículos sutis ou corpos de nosso ser é disperso, trazendo consigo grandes
poderes espirituais, os quais são inatingíveis quando essa energia é
desperdiçada em excesso sexual.
A vida sexual é uma
realização concreta. A vida espiritual é um processo de sublimação desta mesma
vida. O amor tem como objetivo principal visar a vida divina. O fluido vital
proporciona vigor, força física e mental aos seres humanos. Se for permitido a
ele se esvair, o indivíduo se debilita. Se preservado, ele se converte em ojas,
ou energia espiritual, que confere saúde, longa vida, coragem e poder de
concentração ao indivíduo, dessa maneira tornando-o um indivíduo consciente.
O ato de amar é um
processo yogui. Esse ato é muito negligenciado por todos nós. Um ato que gera
novas vidas não poderia ser desprezado pelos deuses. As pessoas que negativizam
o ato sexual se esquecem de que é exatamente do clímax desse ato que uma alma
desce e que uma nova vida é concebida.
A qualidade da alma tem
uma relação direta com as circunstâncias. Se uma alma é concebida num momento
de raiva, culpa ou qualquer outro sentimento, ela é atingida desde a concepção.
Para darmos vazão à raça de super-homens a que Nietzsche se referiu, temos de
estar vibrando em circunstâncias superelevadas; só assim o padrão de
consciência da humanidade se elevará. Essa mesma humanidade não poderá existir
enquanto não conseguirmos trazer harmonia para o ato sexual, enquanto não
dermos uma estrutura espiritual para o sexo, enquanto não respeitarmos o sexo
como um dos primeiros portais para conseguirmos alcançar o êxtase espiritual.
E É EXATAMENTE AQUI QUE O
SEXO SE ENCONTRA com a religião. Esta mesma energia sublimada nos chacras
superiores eleva o ser humano para o mundo da libertação, onde não há morte,
não há tristezas, somente a felicidade permanente; sendo assim, esse mesmo ser
poderá se tornar supremo em sua máxima consciência.
Mas... e o amor? Todas as
religiões pregam o amor. Mas que tipo de amor? Não existe coisa alguma na
natureza que deprecie o amor. Não existe coisa alguma na natureza de Deus que
seja imperfeita. Portanto, o amor não se compra, não se vende, não pode ser
importado de outras esferas. Ele habita e se nutre da essência do próprio
homem; ele está centralizado na alma do próprio ser humano.
O amor é a fragrância da
vida. Não existindo dogmas, o amor aparecerá. Não podemos deixar que
preconceitos e falsos ensinamentos nos atinjam, nos transformando em seres
medrosos na arte do amor. O amor é um sentimento inerente a qualquer ser
humano. E se, conscientemente, deixarmos este sentimento fluir em nossos
corpos, com certeza conseguiremos tocar Deus, já que Ele é essencialmente
constituído de átomos de amor puro.
Começamos o amor por meio
do sexo, da paixão; portanto, não faça dele seu inimigo. Sexo não é pecado! Ele
é a própria energia que viaja e alcança o oceano interno do amor. Neste plano
em que vivemos, da terceira dimensão, não podemos separar sexo de ser humano,
porque é por intermédio dele que tudo começa; nós nascemos a partir dele, nós nascemos
da maior magia do universo, nascemos da magia do amor (físico e espiritual).
Deus consideraria essa
energia pecaminosa? Não estaria Ele se contradizendo? Acredito que esse
pensamento – de que sexo é pecado e que nascemos de um ato de pecado – seja um
pensamento puramente humano, próprio de um ser que ainda não se entregou à arte
de amar, e tampouco se deixou, experimentar na união de almas afins, por puro
medo de se entregar ao seu próprio amor. Vamos, então, sublimar o amor que
somos, para sermos representantes fiéis e belos deste Ser Maior, que nos ama
incondicionalmente.
QUANDO UM CASAL SE
ENCONTRA deve haver entre ambos um sentimento de sacralizacão (com o coração
aberto). Deixe florescer a plenitude em sua vida, aceitando-a com naturalidade
e pureza. O que eu poderia dizer sobre o amor? Ele é profundamente subjetivo.
Temos de vivenciá-lo, pois Ele simplesmente é. E não tenham dúvida de que
quando nos unimos espiritualmente a uma pessoa, nos unimos a ela para toda a
eternidade.
Para os taoístas, a arte
da cama pode ser cultivada da ao longo da vida. É chamada de “amor curativo”,
porque se concentra na cura em geral e no amor. O verdadeiro segredo do Tao é
que a vida e o amor não têm metas. A vida, como o relacionamento, é um mistério
que se revela constantemente para aqueles que não têm medo de viver.
O amor curativo do taoísmo
(medicina chinesa) não se baseia na quantidade de orgasmos que você possa ter,
mas sim na qualidade do amor e da cura que você experimenta no relacionamento.
Eles dizem também que o amor é muito mais que um sentimento efêmero ou uma
construção mental; é uma energia corporal centrada no coração.
O Tao não coloca os
benefícios espirituais do amor curativo acima dos benefícios sexuais, curativos
ou emocionais. Na verdade, todos são simultâneos e complementares. Para os
taoístas, a energia sexual também e sagrada. Concordamos que sempre que fazemos
sexo com amor liberado, entramos em comunhão com a energia divina, universal,
já que tudo vem Dela mesma.
Esta ciência nos esclarece
que os hormônios podem nos unir por meio do desejo, mas amor é muito mais do
que química; amor é uma energia física do coração e não apenas uma emoção
mental. Quando os parceiros experimentam a intensa troca de energia da “união
de almas”, conseguem estender o prazer orgástico por muitas horas e estar em
profunda conexão, ainda que separados. E o que os taoístas chamam de “orgasmo
da alma”.
Como o amor curativo
ensina os amantes a circular energia de um para o outro além do simples toque
físico, eles conseguem sentir essa conexão elétrica, ainda que não se toquem ou
não estejam juntos.
Enfim, o assunto é longo,
profundo e apaixonante. Ficaria um tempo sem conta falando de amor e da arte de
amar. Mas isto, infelizmente, não é possível. Deixo aqui algumas de minhas
idéias, mas o mais importante é que vocês repensem sobre elas. Não tenham medo
de vivê-las. Dê oportunidades para que isso aconteça e deixe fluir o ser bonito
e divino que habita em você. Não seja um ser comum: seja você.
Seja fiel aos seus sentimentos
e à vida que se expressa através de você, e lembre-se sempre de que a alma não
tem sexo, e que o sexo não tem religião. Portanto, seja amado; seja amante;
seja feliz.
(Extraído da revista Sexto
Sentido 52, páginas 36-41)
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