DILMA INAUGURA ATÉ CASAS SEM ÁGUA E SEM LUZ
COMO A OPOSIÇÃO PARECE
ACHAR QUE
NÃO SE BATE EM MULHER NEM COM PALAVRAS
Confrontados com a notícia
de que Dilma Rousseff anda enxergando um cachorro oculto atrás de cada criança
brasileira, os craques do duelo retórico que desapareceram da paisagem política
teriam demolido a usina de maluquices com meia dúzia de frases de grosso
calibre.
Um Carlos Lacerda, por
exemplo, provavelmente sugeriria que a chefe de governo dedicasse ao exame dos
incontáveis problemas reais o tempo que desperdiça em visões mediúnicas.
Um Jânio Quadros talvez
perguntasse se os cães também são distribuídos de acordo com as classes sociais
ou se a presidente já viu um galgo afegão seguindo um pequeno favelado (ou
vira-latas escoltando a filharada da elite golpista).
Para sorte de Dilma, a ERA DA MEDIOCRIDADE transformou numa
espécie em extinção a tribo dos bons de briga, ágeis no raciocínio e rápidos no
gatilho, o antagonista mal
acabara de disparar uma bala bêbada e lá vinha o revide imediato, certeiro,
letal.
Em vez de Lacerda,
Jânio e tantos outros que nunca negavam fogo, que jamais deixavam de apanhar a luva atirada pelo desafiante, o neurônio solitário
lida com adversários exemplarmente gentis, que insistem em valsar com quem só
dança quadrilha.
Previsivelmente, os
candidatos à Presidência não abriram a boca sobre a história do cachorro
oculto.
Poupada de merecidíssimas
lambadas, é natural que Dilma tenha desembarcado em Itajubá, dois dias depois
da discurseira alucinada em Porto Alegre, tão à vontade quanto Rosemary Noronha
num voo noturno do Aerolula.
Caprichando na pose da
supergerente que chegou de trem-bala para passear de barco nas águas já
transpostas do Rio São Francisco, a candidata à reeleição inaugurou uma fábrica
que não construiu, jurou em comícios disfarçados de entrevistas que não está em
campanha e, antes de seguir viagem, decidiu dar conselhos aos interessados em
tomar-lhe o emprego.
“Acredito que, para as
pessoas que querem concorrer ao cargo, elas têm de se preparar, estudar muito,
ver quais são os problemas do Brasil”, ensinou.
Um Leonel Brizola teria
retrucado que, se os demais pretendentes precisam estudar para melhorar a
cabeça, a cabeça de Dilma é que precisa ser estudada antes que fique ainda
pior.
É coisa para uma junta de
especialistas.
É um caso clínico e tanto
(e, como a ciência não para de avançar, pode até ter cura).
Os líderes da oposição
oficial, sempre cavalheirescos, limitaram-se a murmurar algumas ressalvas e
esquecer a provocação grosseira.
A falta de contragolpes
vigorosos ajuda a entender o crescente atrevimento da governante à caça do
segundo mandato.
Nesta terça-feira, Dilma
apareceu em Vitória da Conquista, na Bahia, para entregar aos eleitores 1.740
casas populares.
O lote incluiu mais de mil
moradias sem água e sem luz.
Até agora, os adversários
não pareceram indignados com outro monumento ao cinismo.
Devem achar que não se
deve bater em mulher nem com palavras.
Podem acabar apanhando do
vasto exército de eleitores que desistiu de acompanhar generais que não
combatem.
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